terça-feira, 2 de junho de 2009

Vitocas, basquetebolista da Selecção Nacional

Vitocas, basquetebolista da Selecção Nacional
“Somos guerreiros porque conseguimos algo extraordinário”


Por: Euclides Silva Ramos

O ano 2007 foi doirado para o basquetebol cabo-verdiano. Em Agosto a selecção nacional da modalidade participou no Afrobasket e os Bravos Guerreiros, como é denominada a selecção, trouxe o bronze e a oportunidade de ir aos jogos Olímpicos.
Entre os Bravos perfilava Vitocas, um dos mais conhecidos basquetebolista de Cabo Verde, estudante de Publicidade na UniPiaget. Nesta entrevista ao “Nôs Eco”, Vitocas fala da sua recente experiência no Afrobasket 2007 e desvenda um pouco da sua vida, enquanto Atleta de Cristo.

Nôs Eco – Vitocas, fizeste parte da comitiva que participou no Afrobasket. Consideras-te um guerreiro?

Vitocas – Eu acho que o nosso grupo é um grupo de guerreiros, porque analisando as condições de trabalho que tivemos aqui em Cabo Verde e chegar aonde chegamos no Afrobasket somos classificados de guerreiros. Não somos nós os autores da designação mas sim, foi a Comunicação Social Angolana presente no Afro Basket. É que sabendo das necessidades de um país tão pequeno como Cabo Verde, e ter chegado a esse nível com parcos recursos e conseguir esse feito, quer dizer que, no fundo, somos guerreiros porque conseguimos algo extraordinário.

NE - O que é para ti ser um “Bravo Guerreiro”?

Vitocas - Guerreiro é aquele que, sabendo das suas possibilidades, não espera que os ouros façam a luta por ele. Ele vai a luta, insiste, trabalha para conseguir os seus objectivos. Eu acho que esse é um guerreiro, pois não espera que a “papa” esteja feita.

NE - Quem te influenciou no Basquetebol?

Vitocas – Sabes, em Cabo Verde a gente sempre começa pelo futebol. E foi assim comigo também. Depois, ao começar a visionar os vídeos do NBA penso que passei a ser influenciado pelos mesmos. É claro que também tive a influência de outros atletas mais antigos que já praticavam modalidade no liceu da Praia E ao chegar no Liceu comecei a ter mais contacto directo com esses atletas, como a modalidade e a partir daí comecei a criar mais amor e mais paixão pela actividade.

NE - Qual é a diferença entre a selecção que ganhou a zona II em 1996 e a do Afrobasket 2007?

Vitocas – A diferença é muita: a selecção do Afrobasket tem muito mais experiência em termos competitivos do que a selecção que venceu a zona II. Em noventa e seis a maior parte dos jogadores actuavam no campeonato interno, enquanto os que estiveram em Angola vieram de campeonatos mais competitivos, como é o caso do campeonato português. No torneio da Zona II tínhamos dois atletas a jogarem em Portugal e um em França. Dos Bravos Guerreiros faziam parte jogadores que vieram de Portugal, da França e jogadores que actuam nos Estados Unidos, mas que jogam mesmo, porque na selecção de noventa e seis haviam alguns jogadores, óptimos jogadores, que estavam nos EUA, mas que não tinham uma competição efectiva. Acho que a selecção que esteve em Angola é completamente diferente. Não trabalhou tanto tempo como a da década de noventa, que foi toda uma geração a trabalhar, mas que em termos de qualidade é superior ao primeiro combinado.

NE – Contavas chegar ao bronze? Foi a realização dos teus sonhos?

Vitocas: Não, não, eu não (risos). Já tinha dito que chegando ao Campeonato Africano das Nações seria o terminar da carreira e o Bronze, sinceramente, não estava na minha imaginação, nem nos meus sonhos. Foi algo que aconteceu, um feito maravilhoso que trouxe muito mais a minha carreira. E, como já tinha dito ia ser até ao Afrobasket, agora aparece a qualificação para os Jogos Olímpicos e, se o treinador manter e tiver confiança em mim, claro que estarei disponível a dar a minha contribuição. Isso vai depender dele.

NE – Quintana Cabral e Jean Claude disseram que foram muitas as dificuldades encontradas durante a campanha. O que vocês, os jogadores, fizeram de concreto em prol da equipa?

Vitocas – A equipa sabia das necessidades, pois sentimo-las, principalmente aqui na Cidade da Praia, nos primeiros treinos, com a falta das condições no Gimno Desportivo. No entanto, depois, tivemos boas condições, não só, a nível de espaço, mas também, da alimentação. Todavia, a equipa sabia destas necessidades, e o facto de sermos considerados Guerreiros terá ajudado, pois apresentamos de “cabeça levantada” para não deixar transparecer a Comunicação Social ou a outras pessoas que tínhamos problemas internos. Pouco a pouco, fomos trabalhando e acreditando em nós mesmos e realizamos o que realizamos.
NE - Mané foi importante?
Vitocas
– Mané?! Mané é uma pessoa extraordinária. Em termos de motivação é “cem porcento”, ele sempre acredita e foi ele quem nos chamava de Bravos Guerreiros. Incentivava-nos, Ele tem sempre um espírito positivo, é nosso amigo e esta connosco nas situações difíceis; na falta de agua, em problemas de comida, dos espaços. Ele é um treinador e um dirigente ao mesmo tempo. Mané foi fundamental nessa conquista.

NE - Qual foi o melhor momento do Afro Basket?


Vitocas – O melhor momento foi o de receber o Bronze, era algo que não estava nas nossas expectativas e, receber o Bronze, ver dois colegas nossos a serem eleitos no cinco ideal, todo aquele ambiente de euforia a quando da nossa chegada em Cabo Verde, ter representantes da Comunicação Social nacional e estrangeira, nomeadamente angolana e francesa, a acompanharem nos, durante esses dias, com reportagem sobre nós, é algo que em Cabo verde seria impensável. Para quem não esta acostumado, foi algo extraordinário.


NE - Que balanço fazes da participação no campeonato Africano das Nações?


Vitocas - A avaliação para nós é positiva, nós queríamos participar para conseguir a qualificação para o próximo jogos Olímpicos. Pois, foi passo a passo que fomos acreditando que era possível avançar e chegamos onde chegamos. Não quero dizer que chegamos por mérito. Mas, fazendo uma avaliação daquilo que era o nosso objectivo, daquilo que conseguimos, a avaliação é positiva.


NE - O que falta ao basquetebol doméstico para que a modalidade possa subir ao pódio?


Vitocas - Há qualidades materiais e humanas, só que tudo é trabalhado. O mais difícil é a falta da união entre as equipas. Há que criar condições internas, nas associações, nas equipas para que não haja rivalidades, porque são essas coisas que atrapalham o crescimento do basquetebol. Portanto, há que ser humano e o resto é trabalhar.

Os Atletas de Cristo

NE - Já no fim da carreira, porque a idade vai avançando, achas que “Atletas de Cristo vai ser a maior virada da tua carreira”?


Vitocas - Atletas de Cristo é um projecto que há muitos anos queríamos realizar em Cabo Verde. Eu sou atleta de Cristo desde noventa e seis, noventa e sete. Foi uma posição que eu tomei e, agora, com outros atletas, como é caso do Juca, que também, são ADC, após vários contactos, conseguimos realizar esse sonho de ter a ADC em Cabo Verde. Como praticante posso servir de exemplo, é claro que ao deixar de jogar poderia ser muito activo em organizar os Atletas de Cristo, em levar a palavra de Deus, aconselhar aos mais jovens acerca de certas praticas que nos desviam do ideal desportivo.


NE - Como é a experiência de ser crente num ambiente de desportivo? Que tipo de barreiras já enfrentou?


Vitocas - Há muitas barreiras, é uma luta constante, mas essa luta tem que existir, porque se fosse tudo fácil não valeria a pena. Há muitas tentações, muitos convites, muitos apelos, existem certas coisas, mas uma pessoa que crê e tem fé em algo deve facilitar as coisas, valorizar-se.

NE - Como vai ser depois de deixar as quatros linhas?


Vitocas - Depois de deixar o Basquetebol vejo me a continuar com as crianças do Mini Basket ou então assumindo alguma outra posição. Já tive alguns convites da Federação Cabo-verdiana da Basquetebol para pertencer ao quadro técnico, mas será com a formação. Quando tiver tempo necessário para receber uma formação a nível de treinador, poderei dar o meu contributo como técnico.


NE - Vitocas joga no ABC, é treinador, pai, estuda, trabalha. Há tempo para tudo?


Vitocas - È difícil conseguir ter tempo; de manhã estudo, a tarde vou trabalhar, a noite treino, tenho dois filhos, esposa é tudo uma questão da divisão de tempo. Há tempo para tudo, tirando um caso ou outro, dá para gerir, não num nível competitivo muito elevado, mas aqui em Cabo Verde pelos três treinos semanais, há tempo.


NE - O que você diria para os jovens que estão a começar o basquetebol?


Vitocas - Tem que ter ambição, uma ambição positiva que o leva a fazer coisas positivas para alcançar os seus objectivos. Não é só dizer que tem ambição e deixar que outros trabalham para ele. O jovem terá que ser Guerreiro, esquecer as adversidades que apareçam, deixar de culpar terceiros e evitar muita paródia que, infelizmente, agora entra na vida dos jovens muito cedo e acreditar que poderá chegar lá. Nós que conseguimos isso, os que estiveram no Afro Basket 2007, éramos muitos jovens e eu era o mais velho e o resto tinha 21 a 25 anos. Os jovens têm que acreditar e confiar neles mesmos, deixar aquilo que é mau e ruim pelo caminho e ter ambição, penso que falta um bocado de ambição.

O guerreiro

Victor Hugo Vera-Cruz Fortes
Local e data de nascimento:
Cidade da Praia, 13/09/1971
Estado civil:
Casado
Filhos:
Dois filhos
Posição:
Poste
Hobbies:Leitura e televisão.
Clubes em que jogou: Prédio, Seven stars, ABC, TAP e Cruz Quebrada (Portugal).
Títulos: Campeão regional de S.Tiago, campeão nacional, campeoão 2ª divisão em Portugal, Zona II e Bronze Afrobasket 2007.

Os Atletas de Cristo

A organização apareceu quando, nos finais dos anos setenta, João Leite, o então guarda-redes do Atlético Mineiro, decidiu assumir publicamente a sua fé ao entregar a Bíblia aos adversários, antes do jogo.
Em 1981, com a ajuda do ex-jogador do basquetebol, Abraão Soares e a adesão de outros atletas ao gesto, com a entrada de Eliane Leite, estrela de Voleibol e mentora do nome, formou-se a instituição Atletas de Cristo, assente nos seguintes princípios:
“- Falar de Cristo aos atletas de todas as categorias e modalidades;
- Dar-lhes condições para que eles mesmos pudessem evangelizar seus colegas aproveitando a porta naturalmente aberta a eles;
- Cooperar com igrejas, missões e organizações cristãs;
- Contribuir para a prática séria e honesta do desporto;
- Realizar actividades que tornassem possível o alcance desses objectivos.”

Alex Dias Ribeiro (ex- piloto da Formula 1), a partir de Março de 1986, passou a ser o Director Executivo dos ADC. Na década de noventa a denominação já contava com atletas de peso como: Baltazar (ex-F.C do Porto e Atletico de Madrid), Silas (ex-Sporting CP e AC Milan), Jorginho (ex- F.C. Bayer de Munique e campeão do mundo), Bita (ex- BI campeão brasileiro de Surf), Donato (ex- Atletico de Madrid e La Corunha), Baptista (Ex-Tirsense de Protugal), Jojó de Olivença (Bicampeão Brasileiro de Surf), Luiz Leite (ex-campão brasileiro de basquetebol), Cesar Sampaio (Bola de Ouro da revista Placar 1993, ex- Palmeiras).
Actualmente a organização conta com mais de seis mil atletas brasileiros, actuando no campeonato brasileiro e em vários países.
O treinador Juca, líder dos Atletas de Cristo em Cabo Verde, esteve no 27º congresso realizado entre 18 a 21 do Dezembro de 2007, em Vale da Benção, em Araçariguama-SP. Sob o lema “ Amando o Senhor correndo juntos e alcançando muitos”. O evento foi presidido por Jorginho, treinador adjunto da selecção Canarina.









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